terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Aquele sobre o direito de comprar em paz

Sou uma pessoa legal e não faço mal a ninguém. E se um dia eu fiz, peço perdão a seja lá quem for e juro, jurinho, que nunca tive a intenção. Com base nisso, queria dizer que eu só gostaria de ser bem tratada nos estabelecimentos comerciais nos quais entro à procura de algo para satisfazer minhas necessidades feat. meu consumismo. Aliás, não importa a finalidade - contanto que não seja crime -, todos merecem ser bem tratados. E não estou falando só de preconceito, que se eu sofri de algum tipo, nem percebi.

Não é de hoje que algumas lojas da Grande Vitória, aqui no Espírito Santo, são duramente criticadas por conta de seu atendimento aos clientes. Seja por tempo de espera, ou por impaciência em tirar dúvidas, ou por "perseguição" na loja - ou só eu que DETESTO quando o atendente fica me seguindo, como se eu fosse roubar algum produto a qualquer momento? Enfim, as reclamações são inúmeras. Aposto que na timeline do seu Facebook, todos os dias tem alguém relatando um caso de péssimo atendimento.

***

Eis que, na última sexta-feira (31), após o trabalho, fui ao shopping para comprar umas coisinhas que já havia planejado há uns dias. Como estava de ônibus, cronometrei certinho o tempo gasto em cada loja que devia ir, pensando já no horário que eu sairia do shopping e, consequentemente, no horário que eu chegaria ao terminal rodoviário para pegar o segundo ônibus, que me deixaria em casa finalmente. Nada poderia sair do roteiro, pois um minuto a mais perdido ocasionaria em uma espera de CINQUENTA (não estou mentindo, leitores) minutos no terminal. E isso, por volta das 22h de uma sexta, eu não desejo a ninguém.

Eu precisava, antes de mais nada, imprimir umas fotos da formatura do meu namorado. O plano era, depois, dar de presente um porta-retrato já com a foto para ele e outro para a mãe dele. Na loja, fui informada de que demoraria cerca de 20 minutos para imprimir três fotos. Beleza, enquanto isso eu rodaria o shopping à procura de umas molduras bem bonitas.

Para meu desespero, nenhuma loja que poderia ter esse tipo de presente tinha o tamanho que eu queria: 20x15. Quando tinha, era tipo R$ 90. Não sei você, mas eu não pago R$ 90 em um porta-retrato, isso é tipo metade da gasolina que gasto em um mês. Ou uma bolsa legal, ou uma sapatilha da moda. Mas não um porta-retrato. Além disso, nenhuma dessas lojas me atendeu de boa vontade: em uma, a atendente ficou me seguindo e tentando me empurrar um 10x15, sendo que expliquei várias vezes que eu já tinha mandado imprimir 20x15 e que esse tamanho era mais bonito (e eu ainda me dou o trabalho de explicar o porquê da escolha do tamanho). 

Na outra - campeã de reclamações no meu Facebook, nem sei porque ainda fui lá -, a vendedora, com uma cara de desprezo que não consigo nem explicar, me disse que não tinha e que ninguém comprava desse tamanho (eu compro, uai, cadê meus direitos?). Perguntei sobre a possibilidade de ter daquele porta-retrato, que também serve de porta-papel (nem sei se usa hífen, tá gente?), em que só pregamos a foto. Segue o diálogo, que eu não acredito até agora que aconteceu:

- E daqueles que a gente só coloca assim a foto (faço o movimento de pregar a foto como se fosse um bilhete), será que não tem?
- Isso não é porta-retrato.
- É sim, eu já comprei, já ganhei, serve para fotos e recados...
- Isso é um porta-foto. Porta retrato é aquele ali (ela aponta pros clássicos retangulares). Isso que você está falando é porta-foto e porta-recado.

Desisti na mesma hora, agradeci e saí. É possível que eu nunca mais volte, por mais fofuras que essa loja tenha.

Ainda na esperança, fui à duas livrarias, que também vendem artigos de presente, e perguntei se não havia no tamanho 20x15. Para minha surpresa, as duas lojas haviam retirado das prateleiras por conta da volta às aulas. Aí eu pergunto: o que uma coisa tem a ver com a outra? Ninguém compra porta-retrato nessa época (eu compro, oras!)? Desolada, voltei à loja de artigos fotográficos para buscar as fotos e decidi comprar, lá mesmo, qualquer porta-retrato sem originalidade. E, adivinhem? Eles não tinham nenhum modelo 20x15. Nenhunzinho.

Por sorte, neste mesmo shopping, há um estabelecimento especializado em molduras. Olha que legal! Eles fazem de quadro, de pôster e de fotos, claro. E havia vários modelinhos e cores no tamanho 20x15, fiquei tão feliz que achei que nada mais pudesse me tirar o sossego naquela noite de sexta-feira. A atendente foi super simpática, me explicou os preços, quem nem eram caros, e me deixou escolher os modelos. Estava eu, toda feliz, posicionando as fotos em cima das molduras, para ver como ficava, quando uma senhorinha se aproximou e começou a falar:

- Escolhe o branco, fica melhor.
- Ah não, tô vendo aqui ainda  - eu disse, forçando simpatia.
- Mas o branco é melhor que esse aí.
- Ah, não quero não, tô em dúvida nesses dois aqui - eu tinha um dourado e um marrom na mão.
- Mas esses são feios, o branco é mais bonito.

Peraí. O limite, que já havia sido ultrapassado, foi esmagado. Ignorado. Fiquei puta, me perdoem a expressão. Mas é que já é muito chato gente desconhecida que puxa assunto do nada. Fica ainda pior quando essa pessoa começa a OPINAR e SE METER no que é seu. Ou quase seu. Para meu choque supremo, descobri no mesmo instante que ela era dona do lugar. Proprietária, aquela que devia agradar o cliente, vulgo deixá-lo em paz, escolhendo suas moldurinhas, estar ali só para ajudar, quando for solicitada... E, para provar que minha reação não é exagerada, segue a continuação:

- Mas eu não gosto de branco - expliquei, cortando o assunto, porém ainda tentando ser educada. 
- Porque não?

Meu Deus, ela queria saber porque eu não gosto de branco? É isso mesmo? O que ela tinha a ver com isso? Não tenho o direito de ter dúvida entre marrom e dourado e ignorar o branco? Eu já não ia comprar TRÊS molduras? Não custava me deixar quieta escolhendo? Muitas perguntas, nenhuma resposta.

- Porque não - respondi, exalando antipatia.
- Essa aqui é você? - ela continuou, apontando para a mãe do meu namorado, na foto deles. Juro que ela fez uma cara irônica.
- Não.
- É quem? - meu Deus, ela não desistia.
- É minha sogra.
- Nossa, se fosse sua mãe não seria tão parecida - quis socá-la, mas fiz cara de indiferença e, depois dessa, ignorei.

No fim, ela descontou na atendente boazinha, dizendo que ela estava colocando as fotos de maneira errada, que tava embalando de forma errada. Em um último momento, acho que ela tentou se vingar de mim:

- Esse valor dá para dividir em duas vezes? - perguntei, pensando nas contas do início do mês, coisa e tal, gasolina, alimentação, etc. Não está fácil.
- Dá s... - a vendedora ia me dizer, quando foi cortada pela senhorinha:
- Não dá, não - ela disse, perdendo toda a pseudo simpatia que ela fingia ter.

Sou pobre, mas tenho dignidade, então paguei em uma única vez mesmo o valor e saí, agradecendo apesar de tudo. Olhei o relógio no celular: incrivelmente, ainda dava tempo para minha última tarefa programada, que era comprar um outro presente para o namorado. Fui à loja, escolhi rapidamente, por já saber o que queria, fui para o caixa e comemorei a fila com apenas duas pessoas. Tudo daria certo. Na minha vez, o computador do caixa deu problema e a máquina precisou ser reiniciada. Como ninguém teve a capacidade de me passar para outro caixa vazio e funcionando, esperei. Esperei. E perdi meu ônibus.