quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O primeiro acidente

Tenho 26 anos, a menos de dois meses para completar 27. Nunca falei aqui (acho), mas aos 24 eu tirei carteira de motorista (passei de primeira, mesmo saindo em segunda marcha de uma parada regulamentar em subida de morro) e, aos 25, comprei meu primeiro carro, o Walter White (dividido em cinco anos, mas meu e comprado apenas com o meu suor - barato né?). Hoje, beirando os 27, sofri meu primeiro acidente de trânsito. [esse lide ficou quase igual o de baixo, às vezes sou meio repetitiva mesmo]

Não, não foi grave, nem chegou perto de ser, não me feri, todos estão bem, o rapaz que bateu na traseira do Walter assumiu a responsabilidade e, até o momento, pagará o conserto. Não vim aqui para dizer "ó, sofri um acidente, etc etc etc". Mas é que fiquei pensando nas coincidências da vida, dos atos e dos pensamentos, em como todas as coisas se conectam em uma só no fim das contas.

Alguns podem chamar de sexto sentido, mas acho que não é e é possível que toda pessoa sinta isso: quando algo ruim está para acontecer, seu cérebro (e talvez coração?) emite vários avisos, indiretamente, de que aquele dia específico você não terá uma rotina normal. Alguma coisa vai acontecer. E na maioria das vezes só percebemos os avisos cerebrais, infelizmente, após o ocorrido.

Primeiro aviso: hoje acordei pensando em ir para o trabalho de ônibus, vejam bem. Às vezes, faço isso para economizar gasolina, apesar de nas últimas semanas não ter usado o coletivo nenhuma vez. Precisava terminar um livro para fazer uma matéria, e aproveitaria os 50 minutos de ônibus para tal. Mas aí acontece de quinta-feira ser um dia no qual posso me dar ao luxo de almoçar em casa sem grandes preocupações, e acabei me atrasando lavando o cabelo - que agora é cacheado de novo e precisa de 345328 produtos. Resumindo, "ah, vou de carro mesmo".

Segundo aviso: tenho mania de pensar na vida enquanto dirijo. Hoje, todos os pensamentos estavam voltados para as finanças. Em abril, começo uma pós quinzenal em roteiro, no Rio de Janeiro. Mais do que nunca na vida vou precisar economizar para poder viajar duas vezes por mês e ainda pagar a mensalidade, sem deixar de pagar o carro e o seguro do mesmo. Moro com meus pais e não de aluguel, o que ajuda, mas mesmo assim será bem difícil, basta você pesquisar por aí qual o valor do salário de um jornalista. Então fiquei pensando infinitas situações, tais quais: e se eu vender o carro (!!!!) e conseguir um emprego no Rio?; não posso ter prejuízo nenhum com esse carro nesse ano, senão fodeu; se acontecer alguma coisa com o carro e eu precisar pagar e surgir uma oportunidade de ir pro Rio (até parece) e eu precisar vender o carro e não conseguir porque ele está batido (!!!!!!!!!!!!); meu salário podia ser um pouco maior para poder continuar pagando esse carro sem sufoco; oh deus, que fazer da vida?.

E foi aí que, subindo uma ladeira na rodovia Norte-Sul, no cruzamento da entrada do Bairro de Fátima, sentido Serra-Vitória, vi que a pista da direita, na qual eu seguia, estava sinalizada com cones devido ao corte do mato do acostamento (véi!!!). O problema é que o primeiro cone de aviso estava bem na subida, logo depois de uma curva, de modo que eu só tinha duas opções: ir para a esquerda rapidamente ou ligar o pisca-alerta, frear, parar o carro e tentar ir para a esquerda rapidamente (a terceira seria atropelar os cones, mas não recomendo). A primeira opção foi inviável, uma vez que, na pista da esquerda, o fluxo de carros estava intenso e os motoristas estavam, no mínimo, a 80km/h (o limite ali é de 60km/h). Obviamente, para não "fechar" ninguém e justamente para não causar um acidente, fiz a segunda opção. Foram apenas alguns segundos para decidir... com o tempo, fui aprendendo que o trânsito é feito de decisões rápidas, como essa. Não dá para ir, sinalizo, espero e tento. Pensamento nisso, um olho no retrovisor interno, outro no esquerdo, e vamo que vamo. Dirigir é uma adrenalina constante.

Mas, também em questão de segundos, o carro que dirigia atrás de mim com menos de um minuto de distância não viu meu alerta em tempo (assim como eu não vi o cone). Pelo retrovisor interno, eu o vi chegando. Pensei que ele conseguiria parar, olhei para a esquerda para ver se dava para ir, não dava, e nesse momento ouço um barulho forte, meu corpo é projetado com força para frente (viva o cinto de segurança, meu povo!) e meu celular cai de um compartimento acima do som para debaixo do meu banco (não sei como essa parte aconteceu). Tudo em questão de segundos. E, até eu processar o que realmente tinha acontecido, de forma egoísta comecei a lembrar dos meus pensamentos antes do acidente, abaixei a cabeça no volante e chorei.

Segundos depois, ergui a cabeça, olhei para trás e vi os ocupantes do carro saindo: um casal, estão bem, graças a Deus. Saí chorando, nervosa, as mãos tremendo. Cara, eu nunca tinha passado por isso. A esposa do motorista me acalmou, disse que tava tudo bem, eles tinham seguro, sem feridos, coloca o triângulo, meu Deus que perigo, as pessoas também estão vendo o triângulo em cima da hora, assim como vi o cone e o moço viu meu carro em alerta. Descubro que no carro do condutor ainda há um bebê de um mês de vida. Choro mais, a mãe da neném me acalma, afinal a culpa não foi minha, me sinto culpada, a neném é fofa, estava dormindo e continuou dormindo, nem sentiu o impacto, que fofa, queria ser neném de novo, não me preocupar com mais nada...

***

Depois de chorar na frente dos outros, da mão tremer que nem ônibus passando em estrada de chão, de agradecer a Deus mil vezes por minha vida e pela vida daquela família e pelos danos mínimos diante de tantos acidentes graves que vemos por aí diariamente, ainda tive a coragem e a idiotice de comentar, na delegacia, "esse é meu primeiro B.O.". Por qual motivo, DEUS, fazemos comentários estúpidos sem pensar diante de situações sérias? Juro que foi sem querer.

Mas falando sério agora (antes era também, mas agora é mais), mesmo não sendo grave, vou ficar pensando nesse pequeno acidente por um bom tempo. Vários 'e se' vão ficar na minha cabeça por um bom tempo.

Queria agradecer ao motorista que colidiu no meu carro (e que não vai ler esse blog nunca na vida) por motivos de: aparentemente é um cara do bem, assumiu a responsabilidade todo o tempo, tem uma esposa legal que, mesmo com uma neném de um mês no carro, tentou me acalmar, não fugiu e seu seguro (acho) que vai pagar o meu conserto. No fim, eu tive sorte. Muita sorte.