terça-feira, 10 de setembro de 2013

Aquele da pedrada na janela do ônibus

Antes que alguém possa pensar em condenar o post e defender o outro lado, já adianto que o relato a seguir nada tem a ver com nenhuma das manifestações ocorridas nos últimos meses, e nem é uma posição da autora em relação às mesmas. Apenas um depoimento do pavor momentâneo vivenciado na última noite. (É bom avisar, afinal muita gente nem lê uma linha e já presume que compreendeu o texto. Acreditem: acontece).

Talvez eu nunca tenha sentido um medo tão intenso nesses 25 anos - talvez até tenha, mas ele acaba de ser ofuscado -, nem mesmo quando voltei do Rock in Rio em 2011, sozinha, em uma cidade completamente estranha (acho até que posso contar sobre isso depois). O fato é o seguinte, meus amigos: hoje, eu quase levei uma pedrada na cabeça. E daquelas bem bonitas, que fazem um estrago lindo de se ver.

Eram aproximadamente 20h15, pouco menos ou pouco mais que isso, e eu voltava para casa, em direção ao Terminal Rodoviário de Carapina. Estava tudo certo para pegar o onibus de 20h35 para minha casa, apesar de inicialmente a previsão ser o de 19h50. Mas sabe como é, uma vez no shopping, o descontrole toma conta. Além do presente de aniversário da amiga, parei para comprar uma bolsa nova. Mal sabia eu o efeito que essa pequena parada para as compras e essa troca inocente de horários causariam na minha pacata rotina.

O 515, que faz a linha Terminal de Campo Grande > Terminal de Laranjeiras, nem estava muito cheio. Deviam ter umas três ou quatro pessoas em pé, somente. Tudo ia muito tranquilo e estávamos na altura do Colégio Salesiano, entre Jardim Camburi e Bairro de Fátima. Eu estava sentada do lado direito (da porta), próximo à janela, nos bancos localizados um pouco depois da porta do meio. Um garoto ao meu lado cochilava, e eu estava no mesmo caminho. Os olhos quase fechando, fechando, sonha Darshany, que já, já cê tá chegando em casa... BUM.

O máximo que consigo mostrar, ainda com as mãos trêmulas,
após limparem o banco.
Nessas horas tudo é tão rápido que você fica atordoado, olhando para todos os lados. Ao mesmo tempo que parava para olhar os cacos de vidro ao meu redor e dentro da minha blusa, vi um grupo de jovens (não sei precisar quantos, nem se eram menores) correndo em direção contrária e gritando 'uhhhhh', como se estivessem comemorando. Comemorando o quê? Possíveis passageiros inocentes feridos? Ou será que eles não fazem ideia do que pode acontecer ao jogar uma pedra enorme na janela de um ônibus?


A janela atingida foi exatamente atrás de mim. Não sei como, mas a pedra não atingiu a cabeça de ninguém, e ninguém também se cortou com o vidro - na verdade essa última parte não tenho certeza, mas no meu caso, só restou um pescoço vermelho pelo impacto dos cacos, já que por ironia do destino eu usava um rabo de cavalo. Os passageiros do banco de trás, os mais atingidos pelos cacos, levantaram e seguiram em pé a viagem. Pareciam bem, apesar de assustados. A moça da frente, que estava sozinha, percebeu que eu estava abalada e não levantava, e me chamou para sentar com ela, já que havia um assento livre. "Vem para cá, tem um monte de vidro aí. Você está bem?". Nem perguntei o nome dela. 

Pensando melhor agora, nem olhei direito para as outras pessoas. O ser humano e essa mania de egoísmo. Para tentar justificar, digo que fiquei chocada. Até agora ainda ouço o barulho forte do vidro quebrando, do nada. Vai que era tiro? Nós estamos mais vulneráveis do que imaginamos, essa é a verdade. Por mais que o jornalismo nos permita ver coisas terríveis, nunca pensamos que nada daquilo possa acontecer com a gente. Como uma pedrada no ônibus, por exemplo. 

O mais incrível de tudo é que o motorista não viu o grupo de jovens, e chegou a insinuar que alguém de dentro do ônibus havia empurrado a janela e quebrado. Bom, desci no terminal e, apesar dos obstáculos, consegui pegar o ônibus de 20h35. Não lembro se agradeci à moça que me acolheu gentilmente por cinco minutos em seu banco. Nós trocamos algumas palavras, mas também não me lembro.

Se os meninos estavam protestando? Não sei. Revoltados com alguma coisa? Não sei. BRINCANDO? Sei ainda menos. O que sei é que o ser humano, em seus atos impensados, cada vez menos pensa nas consequências para o próximo. Fico pensando: e se tinha alguma mulher segurando um neném do lado da janela? Acho que pensarei em vários 'e se' até o fim da semana, pelo menos. Porque é muito inacreditável esse tipo de atitude, em qualquer circunstância, até mesmo em protestos. Nenhum inocente merece se machucar. Eu não mereço.

Como desabafar no Facebook incomoda muita gente, fica aí o meu desabafo.


2 comentários:

  1. Tadinha da Shany =( Sinto muito que tenha passado por isso, amiga. Realmente somos muito vulneráveis e a qualquer momento qualquer coisa pode acontecer, na verdade, rs, mas vamos vivendo, né. Que bom que ninguém se machucou... Beijinhos (e linda música ^^)

    ResponderExcluir